terça-feira, 16 de outubro de 2007

Entrevista com Cristo Redentor


Regina Paranhos & Fabio Bastos

Entrevista concedida para a repórter Regina Paranhos pela estátua do Cristo Redentor após ter sido escolhido uma das 7 maravilhas do mundo moderno.

RP - Como devo lhe tratar? Senhor, por ser o Cristo Redentor ou senhora, por ser estátua?
CR – Você deve me tratar de senhor e com todo o respeito porque agora que eu sou uma celebridade; sou uma das 7 maravilhas do mundo moderno. E vamos acabar com essa história de estátua porque eu sou um MO NU MEN TO. Estátuas são aquelas que ficam em praças públicas servindo de banheiro pra pombos.

RP — Como e quando o senhor subiu aí em cima do Corcovado?
CR — Já faz tempo que estou aqui. Eu fui concebido por um engenheiro brasileiro lá pelos idos de 1920. Minha construção ficou a cargo de um francês e demorou uns cinco anos pra terminar. Fui inaugurado em 1931 e minhas luzes acesas pelo cientista italiano Marconi diretamente de Nápoles. Pode-se dizer que sou um monumento multinacional. Peso mais de 1000 toneladas bem distribuídas nos meus 30 metros de altura.

RP — É dura a vida de estátua? Essa posição, braços abertos sobre a Guanabara, não cansa?
CR — Essa posição, imortalizada em música do Tom Jobim, é símbolo da cidade e eu tenho que manter de qualquer maneira. São os ossos do ofício, mas eu já estou acostumado. Apesar da minha idade, eu sou duro como uma rocha.

RP — O senhor faz uso de desodorante?
CR — Nunca usei e até hoje ninguém reclamou. O pessoal daqui de baixo do Jardim Botânico até criou um bloco em homenagem ao meu sovaco.

RP — Como é a vista aí de cima?
CR — Eu não me canso de apreciar essa paisagem maravilhosa, não há nada igual no mundo. Nesse tempo que estou aqui assisti muita coisa. Vi construírem a ponte Rio - Niterói, o Maracanã, o Aterro do Flamengo. É bem verdade que vi também algumas coisas ruins como a favelização da cidade. Gosto também de ver turistas chegarem aqui em cima esbaforidos e tirarem fotos de mim. Quando não tem ninguém é chato e pra passar o tempo eu fico contando barcos na baía de Guanabara e as viagens do bondinho do Pão de Açúcar.

RP — É verdade que a sua eleição como uma das sete maravilhas do mundo foi marmelada?
CR — Isso é choro de perdedor, de invejosos. Se você quer saber, eu acho até que fui prejudicado e merecia uma colocação melhor. Perder para a Muralha da China ainda vai, mas ficar atrás de uma cidade de pedra que ninguém nunca ouviu falar é dose. Eu sei que a Estátua da Liberdade foi uma que reclamou, mas, coitada, ela está caidinha, virou até garota propaganda de um shopping na Barra da Tijuca.

RP — Após a eleição, quais são seus planos?
CR — Eu gostaria que fizessem um pedestal rotatório para que eu possa girar e ver toda a cidade. Estou há mais de 70 anos na mesma posição e acordando todo dia com o sol na cara. E tem mais uma coisa, daqui pra frente eu quero ser conhecido como o Monumento do Cristo Maravilha.

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