quinta-feira, 5 de julho de 2007

Meu Brasil brasileiro

— Por onde o dotô quer ir?
— Pela Niemeyer. Prefiro uma bala perdida do Vidigal que da Rocinha.
— A coisa tá feia mesmo. Outro dia o chefão da polícia foi se meter lá no Alemão e mandaram chumbo em cima dele. O dotô precisava ver a cara de assustado que ele fez.
— Foi bom pra ele sentir na pele o que está acontecendo na cidade. Estamos no meio de uma guerra civil e o governo diz que está tudo sob controle.
— O dotô conhece a tal de Suíça?
— Por que você está perguntando isso?
— Porque o Lula diz que lá ninguém fala mal do governo. Que tá todo mundo satisfeito.
— É porque lá os políticos são honestos. O presidente do senado não tem uma amante e uma filha sustentadas por uma empreiteira.
— Sendo político fica fácil, não é mesmo dotô? Eu queria ver ele ter duas famílias sendo taxista.
— É por essas e outras que a gente reclama. O pior é que não adianta nada, eles estão roubando cada vez mais e ninguém vai preso.
— Diz que no Japão quando um político é pego roubando ele se suicida.
— É verdade, mas lá é outra cultura. Se essa moda pega aqui eles iam arranjar alguém para se suicidar por eles. Iam terceirizar o suicídio.
— Mas aqui teve o Getúlio que se suicidou.
— Isso foi há mais de cinqüenta anos. Hoje eles perderam a vergonha na cara. São pegos com a mão na massa e negam tudo, inventam as maiores mentiras. Não dá mais pra acreditar em ninguém. Até o irmão do Lula está envolvido em maracutaia.
— O Lula chamou o irmão de lambari e disse que ele não fez nada de errado. Diz que ele é bobo.
— E você acredita nisso? Acha mesmo que ele é bobo?
— Bobo sou eu, dotô, que ralo o dia inteiro em cima desse táxi pra ganhar uma merreca. Tem dia que não dá nem pra pagar a diária.
— Enquanto isso lá em Brasília a roubalheira corre solta.
— A culpa disso tudo é do Lula. O negócio dele é festa, ele nunca tá aqui, tá sempre viajando. Um dia tá no jogo do Brasil na Inglaterra, outro tá na Índia e por aí afora. Ele só não fica em Brasília. O dotô sabe como que é, quando o gato não tá em casa, os ratos fazem a festa...
— Você queria o quê? O Lula nunca foi de trabalho, sempre viveu encostado em sindicatos e partidos políticos. E o curioso é que ele é o símbolo do partido dos trabalhadores. Mas ele agrada ao povão porque foi reeleito. Você é um que deve ter votado nele.
— Votei mesmo. É que ele fala a língua da gente e diz que as coisas vão melhorar.
— E melhora alguma coisa? Só se for pro lambari.
— Fazer o que, né dotô? Agora, como diz a ministra, relaxa e goza.

Um comentário:

Ana Lúcia Prôa disse...

Relaxei e gozei! Como em todas as suas crônicas! BEIJOS!